domingo, 3 de novembro de 2019

Maria do Caritó



Maria do Caritó – Brasil – 2019. Direção de João Paulo Jabur, com Lilia Cabral, Gustavo Vaz, Fernando Sampaio, Juliana Carneiro da Cunha, Kelzy Ecard, Fernado Neves entre outros.
Baseado no roteiro original da peça teatral homônima de Newton Moreno, também encenada por Lilia. Para o cinema Newton contou com a colaboração de José Carvalho no roteiro.
Caritó é uma pequena prateleira no alto da parede onde se coloca carretel de linha, pente, pedaço de fumo. Diz-se também da moça solteirona que foi colocada na prateleira.
O filme foi rodado em Piacatuba – MG, de onde se obtêm lindíssimas imagens, quando se mistura muitas arvores e palmeiras o verde todo se junta e quase nem conseguimos identificar quem é quem na família vegetal, mas é muito gostoso de ver. A única espécie florida que aparece é um lindo Flamboyant vermelho. A história se passa em 13 junho – dia de Santo Antônio, o casamenteiro – e nos dias seguintes, mas o Flamboyant floresce mais pro fim do ano, o que me fez perguntar quando e onde o filme foi rodado. Realmente foi filmado em outubro e novembro – fica aqui uma licença poética para o Flamboyant florescer em junho. Foi rodado em Piacatuba, pois é perto de Cataguazes onde há um polo de cinema, o que facilita muito as filmagens. Minas sempre na vanguarda né?!
As atrizes e atores estão maravilhosos, Lilia como sempre dá um show, assim como Juliana Carneiro da Cunha, Kelzy Ecard e Fernando Sampaio, que mesmo sem falar uma única palavra transmite tanta poesia, que o coração flutua.
Na história, Maria (Lilia) é considerada santa, pois é atribuído a ela alguns milagres e pelo fato de seu pai a ter prometido em casamento ao Santo Djalminha, após supostamente Maria ter quase morrido ao nascer, porém ela tem calores sob a saia e não quer se casar com santo algum, quer mesmo um amor de verdade. Anualmente faz promessas à Santo Antônio com a ajuda de Fininha (Kelzy Ecard), porém a idade está passando, ela já na menopausa passa a procurar, quase desesperadamente, alguém para casar. Após uma cartomante falar que seu amor é de fora da cidade e com a chegada de um circo ela tem certeza que o “galão” Anatoli (Gustavo Vaz) é esse amor e ela vai à luta por esse amor até descobrir algo muito melhor.
Poesia é o que não falta no filme, só que uma poesia que põe o dedo na ferida, aborda questões importantes como a falta de escrúpulos de muitos políticos, a exploração da fé, manipulação da população e submissão feminina, isso é uma característica do dramaturgo Newton Moreno, dizer coisas que doem de uma maneira suave, poética e cômica, às vezes você só se dá conta das questões abordadas depois de um tempo, tenho cá comigo que alguns até não percebem ou esquecem. No fim você sai do cinema sorrindo e com esperança.
Este é um filme que vi, gostei e recomendo muito!

quarta-feira, 10 de julho de 2019

A mula



A Mula, 2019 - EUA, direção de Clint Eastwood, com Clint Eastwood, Bradley Cooper, Laurence Fishburne, Andy Garcia entre outros.

Não é o primeiro filme que Clint Eastwood aparece cuidando de plantas ou brigando com alguém que maltrata as mudinhas.
Em A Mula, no início do filme Clinton aparece cultivando Hemerocalis, mais conhecidos como lírios (plantas com muitos híbridos), com toda pompa que os cultivadores/produtores tinham. Ganhava prêmios e reconhecimento o que era muito comum em festivais de plantas. Sua relação com os lírios era tão forte que sua família é deixada em segundo plano. Porém com a modernização, tecnologia e a venda de flores pela internet muitos perdem espaço, dinheiro e até respeito, até o Clint. Ele envelhece e se vê sem flores, família e amor próprio.
É nesse momento que recebe um convite para transportar drogas, como mula.
O dinheiro fácil, a chance de resgatar a família e o respeito dos amigos faz com que ele continue transportando, sem muita consciência ele faz como se fosse uma brincadeira o que elimina qualquer chance de desconfiança policial.
Trata-se de uma história real de Leo Sharp, que havia recebido uma série de honras por seus trabalhos como paisagista, floristas, assim como por ter lutado na Segunda Guerra Mundial. Porém sua fama mesmo veio aos 90 anos quando foi preso por portar o equivalente a três milhões de dólares em cocaína no seu carro, uma picape velha, no Michigan.
As interpretações são leves, a trilha sonora bem escolhida e a direção, como sempre muito boa.
Fato é que, ver um senhor de 88 anos interpretando e dirigindo um filme tão plenamente é de tirar o chapéu!

terça-feira, 9 de julho de 2019

Amanda





Amanda - “Amanda” França, 2018, de Mikhaël Hers, com Vincent Lacoste, Isaura Multrier, Stacy Martin.

Amanda é um dos poucos filmes franceses, parisienses, que não têm como uma das personagens principais a própria Paris. A figura da Torre Eiffel, nas filmagens, aparece em forma de brinquedo que protege o buraco onde a bola deve ser encaçapada, sem Champs Elisee, nem Notre Dame. Podemos dizer, um filme diferente, mas mantendo o modo de fazer, mostrando uma boa história filmada de modo simples.
O filme mostra pessoas dormindo na rua, massacres contra a população, discussões na rua entre culturas diferentes, os “bicos” trabalhos informais realizados por todos, especialmente os jovens. Um certo tom de desilusão, não somos mais os mesmos. Paris não é mais a mesma.

Nosso protagonista, o galã Vincent Lacoste representa David, os galãs franceses são pessoas normais, sem físicos exuberantes e rostos desenhados, gente como a gente. David é um podador de árvores que é chamado quando a Prefeitura necessita de seu trabalho. Em São Paulo ele seria chamado diariamente, em Paris, com a arborização urbana muito bem planejada, deve sobrar tempo, pois David aparece podando também cercas vivas de arbustos, bem típico de jardins franceses! E ponto positivo ao mostrar os equipamentos de proteção individual muito bem usados.
Outra cena muito bonita: no orfanato, os filhos de pessoas mortas nos ataques praticando jardinagem, sem dúvida uma atividade para amenizar a dor.
A história mostra nosso herói com 24 anos, ele não tem muitas ambições, vive de podar arvores e alugar apartamentos tipo Booking. Quando sua irmã mais velha morre em um ataque terrorista, David se vê na condição de tutor de sua sobrinha de 7 anos, Amanda. A relação dos dois é construída com muita delicadeza e aprendizado de ambos os lados. A cena final mostra otimismo, numa belíssima interpretação de Isaure Multrier, ao citar “Elvis saiu do prédio” (expressão que representa que tudo está perdido) percebe que há chances ainda, seu sorriso final mostra esperança.