quarta-feira, 18 de março de 2020

Aprendendo a andar de skate em zona de guerra (se você for uma menina)




Aprendendo a andar de skate numa zona de guerra (se você for uma menina) – Learning to Skateboard in a Warzone (If You're a Girl) — dirigido por Carol Dysinger, Reino Unido, 2019.
O curta de 39 minutos, vencedor do Oscar na categoria Curta Documentário. “O filme é uma declaração de amor ao Afeganistão” segundo a diretora. Foi filmado durante um ano e segue o progresso de um grupo de meninas no projeto de inclusão e educação para meninas Skateistan, em Cabul, no Afeganistão.
É um retrato diferente das meninas que vivem no Afeganistão, que sempre são vitimizadas nos filmes, não diferente da vida real. Neste filme elas aparecem sorrindo, aprendendo, se superando, sonhando.
Como o filme é rodado ao longo de um ano, as entradas das estações são marcadas por flores, especialmente as rosas, lindas rosas. Muitíssimo bem escolhida a espécie, pois ela está inserida na história. Quando a professora fala para as alunas que cada uma delas tem que ser forte, a rosa estava lá como exemplo, que sem deixar o feminino de lado é forte, tão forte que tem acúleo (falso espinho) para se proteger, ser resistente. É isso que as meninas no Afeganistão precisam, ser como as rosas, se proteger, ter firmeza sem perder a beleza.
No filme quando as meninas são questionadas o que é ter coragem e elas respondem “é vir para escolas” “é ler um livro”. É preciso ter coragem para andar de skate, aliás um trabalho bem bacana feito pela ONG  Skateistan, organização sem fins lucrativos, que define-se, no site oficial, como a “combinação do skateboarding com uma educação criativa e assente nas artes, que dá às crianças a oportunidade de se tornarem líderes para um mundo melhor”, assim como as rosas assumem a liderança entre as floríferas.
Orlando Von Einsiedel, produtor executivo do filme o descreve como “bonito retrato de esperança, sonhos e superação de medos”.
São 39 minutos, que você pode assistir no próprio computador ou até no smartphone, nem precisa sair de casa. Um tempinho para poesia!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

1917



1917 – Inglaterra e EUA, 2019 - Direção: Sam Mendes, com George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong

Alguns podem estranhar estar um filme de guerra neste blog que fala de jardins e plantas no cinema, mas não se trata de um filme de guerra e sim de homens, mostrado em sequencias perfeitas, tecnicamente aclamado por qualquer cinéfilo e ele vai muito além... Em quatro momentos as plantas falam coisas belíssimas sobre o filme.
O início, um “travelling”, que na terminologia de cinema e audiovisual, é todo movimento de câmara em que esta realmente se desloca no espaço, de um lindo campo de flores “daninhas” que como bem disse Victor Hugo “não existe erva-daninha e homem mau, há sim mau cultivador”.
A beleza de tantas flores, que tem ao fundo um grupo de arvores e à frente dois soldados ingleses, Will Schofield (George Mackay) e Blake (Dean-Charles Chapman), dormindo, encostados à sombra de uma árvore, marca a abertura do filme.
Uma ordem os acorda, de que eles deveriam cruzar o território inimigo e entregar uma mensagem que poderia salvar 1.600 homens, entre eles o irmão de Blake.
A câmera segue os protagonistas e o diretor Sam Mendes mostra o humano desses soldados com atos heroicos não para ganhar medalhas e sim por dignidade. Voltando as flores, há uma cena muito bonita entre os horrores, quando eles se deparam entre as ruínas de uma casa com várias cerejeiras em flor, que Blake conhecia tão bem dos tempos de infância, uma cena perfeita que mostra o excelente trabalho de fotografia de Roger Deakins.
Segue o filme com panoramas que mostram cavalos e homens mortos, explosões, tiros, mas tudo isso fica em segundo plano, pois Mendes consegue através do altruísmo e humanidade mostrar beleza no horror.
Quando já quase desistindo de sua missão Will Schofield é acordado com pétalas de cerejeiras, o que pela crença japonesa significa sorte. É como se a beleza tivesse dado suporte para que ele aguentasse até cumprir sua missão. Um verdadeiro hanami (apreciar as flores) em um filme de guerra, não é filme de guerra!
Ao final, assim como no início, Schofield descansa encostado em uma árvore, após ter cumprido sua missão ao chegar num arvoredo, porém com um olhar diferente, um olhar questionador – Para quê essa guerra?