segunda-feira, 23 de maio de 2016

Sonhos




Sonhos (Yume) Japão/EUA - 1990, com direção de Akira Kurosawa 
Uma verdadeira obra prima!
Kurosawa nos traz oito sonhos, como oito capítulos quase independentes com as mais belas fotografias e muita poesia. A linha que conduz o filme passa pela natureza e sua necessidade de cuidado e respeito, os riscos das guerras, o amor, a experiência e a simplicidade.
O filme todo é muito significativo e traz um pouco do desencanto do diretor com a humanidade. A exceção se faz no último sonho que traz a esperança através das lições de um aldeão centenário que vê o mundo de uma forma bem simples, como deve ser. É de chorar de tanta beleza.
Poderia escrever durante horas sobre esse filme, mas vou me ater a um único sonho, o Pomar de Pessegueiros, no qual está concentrada uma das mais lindas cenas que já vi em filmes. Lá um menino sai correndo atrás de algo que o leva aos pessegueiros e lá ele encontra o Imperador japonês e seus súditos, eles estão muito bravos, pois todo o pomar foi cortado e não haveria flores nem dança dos espíritos das árvores.
O menino fica muito triste ao perceber que não haverá a queda das pétalas, a dança das flores, o hanami e ele chora. A imperatriz intercede e diz que eles deveriam dançar pela última vez para o menino, afinal ele foi contra o corte das árvores. Mas o imperador se recusa dizendo que o menino só queria era comer os pêssegos, o garoto responde que não, os pêssegos podem ser comprados em qualquer supermercado, mas o hanami não. Então eles se comovem com a criança e dançam. A princípio musica tradicionalmente japonesa, depois a clássica ocidental. Tudo é lindo, a disposição em quatro patamares representando a hierarquia do império japonês, as roupas, a maquiagem, as cores. O sorriso do menino recebendo as pétalas dos pessegueiros em seu rosto é fantástico. No final aparecem novamente todas as arvores cortadas e o menino corre e encontra uma única muda brotando. É muita beleza para um filme só.

Vale muito a pena ver esse filme! Um dos melhores filmes em minha opinião.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Nise da Silveira - O coração da loucura


Nise da Silveira – O coração da Loucura, Brasil - 2015, direção de Roberto Berliner.

Excelente trabalho de Berliner e de toda equipe, com excelentes atores e a magnifica atuação de Glória Pires.
Não poderia deixar de escrever sobre esse filme, afinal Nise está entre meus ícones de sabedoria. Desde que comecei a juntar jardinagem e saúde mental tenho estudado e me encantado com a vida dessa psiquiatra da qual compartilho os pensamentos. Segundo ela “Plantar a semente, acompanhar o desenvolvimento do vegetal, dele cuidar com amor, é o princípio que rege a jardinagem como atividade terapêutica. Está cientificamente provado que o relacionamento afetivo do esquizofrênico com o vegetal e com o animal se tornam “linhas de vida” que podem contribuir muito para a retomada de contato com o mundo real.
O filme mostra apenas uma parte da vida da Dra. Nise, quando ela volta a trabalhar em um manicômio e propõe novas técnicas, bem diferentes dos eletrochoques e da lobotomia, que eram muito praticados na época. No filme o assunto principal é a arte, o que foi realmente seu foco principal de estudo, mas falando dos jardins...
A primeira frase de um paciente “cliente, como ela chamava” foi – Uma semente não pode ser jogada no lixo, e assim ele juntava todas que encontrava nas lixeiras. Outra parte muito bonita, são os pacientes pintando nos jardins e mais ainda passeando livremente pelos bosques. Isso sim é tratamento, pelo menos em minha opinião e experiência.

Vale muito a pena conhecer essa história!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Fogo no mar

Fogo no Mar, (Fuocoammare) – Itália, 2016 de Gianfranco Rosi.

Esse belíssimo documentário traz à tona um tema mais que atual, os refugiados. Rosi fez um excelente trabalho e o filme ganhou o prêmio Urso de Ouro em Berlim e abriu o festival “É tudo verdade” de documentários em São Paulo.
A câmera acompanha os refugiados, em estado total de miséria, algumas cenas são muito difíceis de ver, como um porão de barco com muitos cadáveres, também segue alguns moradores, como o médico que não consegue dormir de tanto ver vítimas em imenso sofrimento e mortos, um casal, um radialista e dois meninos.
O filme começa com um menino de 12 anos, Samuele Pucillo, procurando um jeito de subir em um lindo pinheiro, sua intenção era tirar um galho para fazer um estilingue para caçar passarinhos e furar cactos, e ele faz exatamente isso no decorrer do filme. Num determinado ponto ele começa a usar óculos, como se uma lente fosse necessária para uma nova realidade. Não sei se faço uma boa analogia, mas uma pequena cidade na Itália (Lampedusa) de 6 mil habitantes que vira uma porta de entrada para aproximadamente 400 mil pessoas refugiadas, sendo que por volta de 15 mil morreram na tentativa de chegar a Europa, realmente é necessário ajustar os olhos, colocar uma lente para aguentar tanta tristeza.
A mesma tristeza o garoto relata em uma consulta médica, apesar de clinicamente não encontrado nada de errado, o jovem diz sentir uma falta de ar e um aperto no peito e no coração, um mal-estar. Impossível não sentir isso com toda essa tragédia.
O filme não mostra lindos jardins, mas ao final o pequeno Samuele vai até o mesmo pinheiro e assoviando se comunica com um passarinho e da mesma arvore que ele fez o estilingue, ele retira um pequeno pedaço de galho que usa para acariciar o passarinho.
O filme é pesado, como o tema, mas é feito com tanta genialidade que vale muito a pena ver.